Património Industrial
Caminho-de-Ferro
Em 1854 foi adjudicado a um grupo de industriais, entre os quais se destacou José Pedro da Costa Coimbra, a construção do Caminho de Ferro do Sul, entre o Barreiro e Vendas Novas e ramal de Setúbal.
O troço foi aberto ao público em 1 de Fevereiro de 1861.
A escolha do Barreiro para terminal ferroviário foi determinada pelas excelentes condições de acessibilidade marítima, a relativa proximidade com o mercado lisboeta e as instituições comerciais, financeiras e políticas da capital.
Os antigos itinerários medievais, terrestres e marítimos que ligavam o Sul do País a Lisboa, perderam importância face à revolução provocada pela introdução do transporte ferroviário. O Barreiro torna-se então, o nó estratégico na ligação Norte/Sul.
Com a instalação deste novo meio de transporte inicia-se no Barreiro, um processo histórico que marcou indelevelmente o tecido social, económico e urbanístico da antiga vila de pescadores e moleiros, dando origem a uma “moderna vila industrial e operária”.
Os vestígios desse passado de arqueologia industrial, materializados na primitiva estação ferroviária do Barreiro, atuais Oficinas da EMEF (1861), na Estação Sul e Sueste (1884), na “Cocheira” ou Rotunda das Máquinas, nos troços e ramais ferroviários, material circulante, gruas de estação, depósitos de água, armazéns e outras instalações, constituem elementos de valor histórico e técnico, dignos de serem conservados como conjuntos de interesse patrimonial e cultural, portadores de grande carga histórica.
Oficinas do Caminho-de-Ferro
Inaugurado em 1861, este edifício albergou a primitiva Estação do Caminho-de-Ferro, aquando da sua abertura ao público, ligando o Barreiro a Vendas Novas.
A sua imponência mantém as características originais à data da construção.
A fachada principal com 65 metros de largura é rasgada por dezasseis vãos de janelas, portas e três portões. Ostenta no frontão, em forma triangular, um relógio de grandes dimensões.
O acesso processa-se através de larga escadaria em cantaria que desemboca num terraço guarnecido com grade de ferro fundido.
O desembarque dos passageiros fazia-se na gare, de 32 metros de largura e 67 de comprimento. Possuía cobertura em vidro e ferro galvanizado
Após o desembarque os passageiros tinham de caminhar cerca de 2 quilómetros, por extenso areal, até ao Bico do Mexilhoeiro, o que acarretava incómodos e suscitava protestos. A situação só foi alterada com a abertura da nova gare ferro-fluvial Sul e Sueste em 1884.
Estação do Caminho de Ferro Sul e Sueste
A 4 de Outubro de 1884 é inaugurada a nova estação ferro-fluvial do Barreiro, projetada pelo Eng.º Miguel Pais.
Estação términus, foi dotada de um cais acessível que possibilitava o transbordo mais cómodo a pessoas e mercadorias, entre as duas margens do Tejo.
Arte e técnica conjugam-se nos elementos arquitetónicos do edifício. A fachada Poente virada ao rio, articula elementos decorativos de temática marítima e vegetalista, em estilo neomanuelino, característico do período romântico.
Na fachada Sul, de carácter mecanicista e funcional, está localizado o hangar de embarque dos passageiros. É utilizado o ferro e o vidro, transparente e colorido, materiais construtivos inovadores na época.
Em 1934 foi construída a Avenida de Sapadores que veio facilitar o acesso rodoviário ao local.
A estação sofreu obras de ampliação e remodelação em 1943.
Em 1995 é inaugurado o novo Terminal Rodo-Ferro-Fluvial do Barreiro. A antiga estação Sul e Sueste perde alguma importância, ficando remetida apenas ao transporte ferroviário.
Com as novas acessibilidades previstas, cujo nó de ligação ferroviária passará para o Pinhal Novo, o Barreiro perde de vez a importância histórica que sempre deteve no contexto do transporte ferroviário, como eixo de ligação Norte/Sul.
Indústria Corticeira
Beneficiando do arranque industrial iniciado com o caminho de ferro, o perfil económico do concelho define-se no final do século XIX, como um importante centro corticeiro.
As corticeiras estão referenciadas no Barreiro desde 1865. Tratava-se porém, ainda de pequenos fabricos. Alguns anos mais tarde, duas empresas, a Sociedade Nacional de Cortiças fundada em 1885, e a O. Herold & Cª. em 1893, empregavam centenas de operários.
Indústria em expansão até às primeiras décadas do século XX, aqui chegam trazidas pelo comboio, famílias inteiras vindas do Sul, que vêm engrossar as fileiras de operários corticeiros.
Em 1928 contam-se já no Barreiro mais de 40 fábricas, que empregam ⅓ da população ativa da indústria (Ana Nunes de Almeida, A Fábrica e a Família, ed. Câmara Municipal do Barreiro, 1993).
As precárias condições de trabalho, suscitavam frequentemente contestações por parte dos operários corticeiros, o que leva em 1890, à criação de uma associação de classe: a Associação dos Operários Corticeiros do Barreiro. Entre os seus dirigentes, contou com inúmeros militantes anarco-sindicalistas, que lideraram greves de protesto contra a exportação de cortiça em bruto e por condições de trabalho mais dignas.
No período pós 1ª Guerra Mundial, a perda de mercados tradicionais (Rússia, Alemanha e Áustria) levam ao colapso desta indústria no concelho.
Indústria Química - Companhia União Fabril
Data de 1907 a aquisição por Alfredo da Silva, de um lote de terreno à família Bensaúde, na Lezíria - entre a Praia Norte do Barreiro e a Praia dos Moinhos no Lavradio -, para aí construir nesse mesmo ano as fábricas da CUF no Barreiro.
Em 1908 começa a produção de ácidos, com uma unidade de transformação de óleo de bagaço de azeitona para fabrico de sabões, que emprega cerca de 100 operários. No ano seguinte entra em laboração a primeira fábrica de Ácido Sulfúrico e Superfosfatos para produção de adubos.
Nos anos seguintes a indústria não para de crescer, transformando a paisagem ribeirinha e o Barreiro no maior centro fabril do País. No final do anos 50 trabalhavam na CUF mais de 8000 operários.
As fábricas operavam em 5 grandes zonas de Produção:
• Indústria Química Orgânica, na refinação de óleos, azeites, sabões, farinhas e rações
• Indústria Química Inorgânica, no fabrico dos Ácidos
• Indústria Química Metalúrgica, cobre, chumbo, ouro e prata e tratamento de cinzas de pirite
• Indústria Metalomecânica, com oficinas de ferro, bronze e fabrico de aço especial para a indústria do ácido sulfúrico
• Indústria Têxtil, primitivamente para sacaria e embalagem de adubos e posteriormente, alargada à produção de tecidos diversos.
A par da estratégia de desenvolvimento industrial, Alfredo da Silva implementou a sua “Obra Social”. Logo em 1908 deu início à construção do Bairro Operário, da Despensa (Mercearia), Padaria e Posto Médico. Em 1927 foi aberta a primeira Escola para ambos os sexos. O primeiro Refeitório entra em funcionamento em 1942 e a Colónia de Férias para os filhos dos trabalhadores em 1949.
Na década de 50 prossegue a política de construção de habitações para o pessoal, com o Bairro Novo da CUF em 1955/56, para além de instalações desportivas e culturais.
O fomento desta política tinha como objetivo a fixação e estabilização da população operária, proporcionando após a jornada laboral, um conjunto de serviços de apoio e regalias, que aproximava o operário da fábrica. Tratou-se de um modelo de gestão característico de uma certa fase, que alargava progressivamente a dependência do operário em relação à fábrica e contribuía para a pacificação social, numa terra em que as lutas politico-sindicais tinham tradição.
A partir dos anos 40 especialmente durante a crise internacional provocada pela IIª Guerra Mundial, ocorrem vários movimentos sociais e greves, cujo mais marcante teve lugar em 1943, quando a CUF encerrou os portões durante um mês. A Vila foi ocupada militarmente pela G.N.R., instalando o seu Quartel no interior das fábricas. As greves prosseguem com os operários a exigir aumentos de salários e a protestar contra a escassez e o racionamento alimentar, e o envio de géneros para a Alemanha nazi.
Nos anos 70 as recessões económicas internacionais, com as crises petrolíferas em pano de fundo, ditaram o colapso do modelo económico da CUF, baseado na grande concentração industrial.
Após o 25 de Abril a CUF foi nacionalizada pelo governo presidido pelo General Vasco Gonçalves, numa política que visava o controle dos sectores básicos da economia pelo Estado.
Em 1977, numa conjuntura política diferente, a CUF dá lugar à Quimigal EP, que procede à autonomização de diversos sectores produtivos, privatizando alguns. Neste quadro vem a ser constituída em finais de 1989 a Quimiparque-Parques Empresariais, para gestão do avultado património de terrenos, edifícios, e rede de infraestruturas que integravam o complexo industrial da antiga CUF, fundada por Alfredo da Silva.
Bairros Operários
Por volta de 1850 tiveram início no Barreiro os trabalhos para construção do troço ferroviário ao Sul do Tejo e respetiva estação fluvial.
O caminho-de-ferro torna-se então um forte atrativo laboral, gerando fluxos migratórios provenientes quer do Sul (Alentejo e Algarve), quer do Centro do País (Beiras), que se mistura com a população residente, maioritariamente constituída por pescadores, moleiros e outras profissões ligadas ao rio.
As primeiras construções destinadas a albergar trabalhadores não naturais do Barreiro, nomeadamente ferroviários, começam por surgir junto ao Alto do José Ferreira.
Nos finais do século XIX e início do século XX, com a chegada dos corticeiros e pessoal para a CUF são construídas as primeiras “Correntezas Operárias” na Rua Marquês de Pombal e Largo Alexandre Herculano.
O desenvolvimento da experiência industrial da CUF gera, poderosas dinâmicas de atração populacional. Milhares de pessoas afluem ao Barreiro, que oferece perspetivas de trabalho e vida melhor.
Em 1908 Alfredo da Silva dá início à construção do Bairro Operário da CUF, junto à antiga estrada do Lavradio.
Na década de 30 o Bairro cresce e amplia-se, abarcando quase todo o Alto de Santa Bárbara, com mais de 300 moradias, organizadas em bandas formando quarteirões de ruas cuja toponímia é bastante característica.
A atribuição de casas era um método seletivo para fixação de mão-de-obra mais qualificada e constituía um meio de marcar diferenciações no seio do pessoal. Para a maioria dos trabalhadores indiferenciados restavam, as “Vilas” e os “Pátios Particulares”, no Bairro das Palmeiras (Bairro da Folha), Alto dos Silveiros, Alto do Seixalinho, e tantos outros, onde as condições de habitabilidade eram muito precárias.
Ainda na década de 30 surge junto às Oficinas da CP, no Largo do Palácio do Coimbra, o Bairro Ferroviário. É composto por 23 moradias para o «Pessoal Graduado» e «Pessoal Braçal» e foi inaugurado em 1935.
As diferenciações refletiam o estatuto socioprofissional dos moradores.
Os Bairros Operários e “Correntezas Operárias” atualmente existentes no Barreiro, são imóveis que apresentam alto valor histórico-patrimonial, por se tratarem de conjuntos únicos, representativos de uma época, com uma função muito específica: o alojamento operário.
Bairro Ferroviário
A construção de habitações para alojamento por parte dos Caminhos de Ferro Portugueses, integrava-se na política “social” da companhia para atrair e fixar pessoal, oferecendo condições de estabilidade familiar e de emprego e contribuindo para o desencorajar de conflitos laborais.
Nessa perspetiva, a empresa construiu vários Bairros, especialmente nos centros ferroviários mais importantes como era o caso do Barreiro.
A 14 de Julho de 1935 foram inauguradas as primeiras moradias do Bairro Ferroviário do Palácio do Coimbra, com a presença do Ministro das Obras Públicas, Eng.º Duarte Pacheco. O Bairro viria a crescer um pouco mais em 1958, quando foram construídas mais 3 habitações, totalizando o conjunto 23 de moradias.
Tipologicamente o Bairro apresenta-se em blocos de 2 moradias unifamiliares de um só piso, com um pequeno quintal, destinadas a duas categorias profissionais o «Pessoal Graduado» e o «Pessoal Braçal». Ambas apresentam algumas variações, ao nível da organização interna do espaço, da decoração das fachadas e do acesso à habitação.
As moradias do «Pessoal Graduado» têm a entrada na fachada principal para a Rua da Bandeira, com uma porta de madeira ao centro flanqueada por duas janelas. O acesso é feito por 4 degraus em pedra calcária. Aproveitando o desnível foram instalados dois canteiros de flores. Os vãos das portas e janelas são rematados por friso em alvenaria pintado, cujo tom é repetido nas barras que percorrem a parte inferior do edifício. Interiormente o espaço é distribuído por 3 divisões e uma casa de banho. Possui outra entrada pelo quintal.
A casa do «Pessoal Braçal» é mais singela na decoração, possuindo apenas uma porta e uma janela. Não tem acesso pela rua principal, que é feito pelo tardoz do edifício. O espaço divide-se igualmente em 3 divisões mas a casa de banho é no exterior.
São pequenas diferenças que refletem o estatuto profissional do seu morador.
Foi construído mais um bloco com 16 habitações em 1959, exterior ao Bairro mas junto ao Palácio do Coimbra.
Em 1964, a CP edificou mais 5 moradias junto à antiga Ponte do Seixal.
Bairro Operário da CUF
O Bairro Operário da CUF situava-se inicialmente junto aos terrenos de uma Ermida do século XVII, cuja invocação era Santa Bárbara e por esse facto durante muitos anos assim foi denominado.
Entre 1909 e 1927 ficam concluídas as moradias da Rua dos Óleos, Rua do Ácido Sulfúrico, Rua dos Superfosfatos, Rua do Dinheiro, Rua da Juta e as Travessas da Glicerina, da Oleína, da Estearina, da Pirite e do Azeite de Oliveira. Como se pode verificar existiu a preocupação de relacionar a toponímia do bairro com os produtos gerados nas fábricas.
Do bairro faziam parte alguns serviços de carácter social, destinados apenas aos operários como o Lavadouro junto ao Depósito de água, os Balneários, a Despensa (Mercearia), o Armazém, a primeira Escola Primária do bairro para ambos os sexos aberta em 1927 e o Chalet do Diretor. Esta parte do Bairro já não existe atualmente.
A partir de 1932 a CUF adquiriu todos os terrenos envolventes ao Alto de Santa Bárbara e após a demolição da Capela, dá início ao alargamento do Bairro Operário.
Foram então construídas as moradias para técnicos e outro pessoal dirigente da Companhia e mais alguns blocos para operários, perfazendo o total de 312 moradias. Esta zona que ficaria conhecida como o Bairro Novo e incluía a Rua da Companhia União Fabril, Rua Dalton, Rua Berthelot, Rua Liebig e Rua Lavoisier.
Nesta fase a predominância da toponímia vai para figuras da ciência ligadas à Física e à Química.
O Bairro Operário da CUF enquadra-se na tipologia de construções para operários, na primeira metade do século XX. Em banda de piso único, organizada em quarteirões, apresentando algumas variações tipológicas ao nível dos vãos das fachadas e nos quintais.
As moradias do pessoal técnico apresentam-se geminadas ou isoladas, com dois pisos ou mais, e grande variação ao nível dos vãos e elementos decorativos das fachadas.
É esta última fase de construção do bairro que permanece atualmente.
Mausoléu de Alfredo da Silva
Alfredo da Silva nasceu em 1871 em Lisboa e faleceu em 1942, tendo sido sepultado no Cemitério Oriental da cidade de Lisboa.
À época da sua morte, o Cemitério do Barreiro localizava-se junto ao Alto de Santa Bárbara, na estrada do Lavradio. A partir dos anos 30, com a demolição da Ermida que emprestava o nome ao local, a expansão do Bairro Operário e várias construções fabris, foram gradualmente envolvendo o antigo Cemitério.
Alfredo da Silva terá manifestado em vida, o desejo de ser sepultado no Barreiro, pelo que, a sua família mandou construir um Mausoléu, para ali serem depositados os restos mortais do conhecido industrial.
O Mausoléu ficou concluído em 1944 e localizava-se no extremo Sul do Cemitério. Trata-se de um imponente monumento funerário em granito, assente num envasamento circular com 12 metros de largura. Tem ao centro uma pirâmide truncada, com 7 metros de altura, que suporta um sarcófago simbólico. Na base da pirâmide repousam os restos mortais de Alfredo da Silva.
O projeto é da autoria do arquiteto Luís Cristino da Silva, com baixos-relevos do escultor Leopoldo de Almeida.
A escultura de Leopoldo de Almeida remete para alusões à indústria e à agricultura, personificadas pelas figuras dos operários, em atitude de respeitosa veneração e obediência, perante a representação de Alfredo da Silva.
Em 1963 a Câmara Municipal do Barreiro construiu um novo Cemitério e procedeu ao levantamento do antigo. Ficou apenas o Mausoléu de Alfredo da Silva, enquadrado num arranjo arquitetónico de 1971.
Companhia Industrial de Vila Franca e Bonfim
Primeira central elétrica do Barreiro, inaugurada em 5 de Outubro de 1926.
Edifício de linhas arquitetónicas sóbrias, de carácter marcadamente industrial. Nele foram instalados os primeiros geradores elétricos para iluminação pública.
Atualmente, é sede da companhia de eletricidade EDP.